No Brasil, a maioria das mulheres votaram em Lula, mas na França, as mulheres votam cada vez mais na extrema direita e no Reunião Nacional
No Brasil, em 2022, o presidente Lula foi eleito pelas mulheres, pobres e nordestinos. O final foi um votação em 58% das mulheres votaram em Lula enquanto 42% votaram em Jair Bolsonaro. Todas as pesquisas que são feitas depois mostram que Lula tem mais apoio no público feminino
Durante muito tempo reticentes em votar na direita radical, as mulheres francesas estão cada vez mais entre os eleitores do Reunião Nacional, de Marine Le Pen. A cada votação, o partido tende a ganhar mais presença nesse eleitorado.
Apenas nos últimos cinco anos, a parcela da população feminina que vota no RN ganhou dez pontos percentuais, passando de 20% a 30%, de acordo com diferentes pesquisas.
As mulheres já votam praticamente tanto quanto os homens na ultradireita. E nas eleições legislativas deste domingo ,7, não deve ser diferente. No primeiro turno, em 30 de junho, 32% das francesas votaram no Reunião Nacional.
No caso eleitorado masculino foram 36%, segundo a pesquisa Ipsos-Talan para France.tv e Public Sénat.
Na votação para o Parlamento Europeu em 9 de junho, um levantamento do instituto Ifop aponta que as mulheres optaram mais pelo RN (32%) do que os homens (31%).
A operação de atração da população feminina começou quando Marine assumiu, em 2011, as rédeas do partido fundado no início dos anos 1970 por seu pai, Jean-Marie Le Pen.
Os discursos violentos e polêmicos dele — que resultaram em várias condenações na Justiça, inclusive por apologias a crimes de guerra — e também suas declarações sexistas espantavam grande parte das mulheres. Nas eleições presidenciais de 2002, por exemplo, ele só obteve votos de 11% desse público.
Uma das razões que explicam a progressão do Reunião Nacional no eleitorado feminino, afirmam especialistas, é que Marine Le Pen utilizou de maneira estratégica seu gênero para se dirigir diretamente às mulheres, se distanciando da herança sexista e machista de seu pai.
“Ela utiliza o argumento de dizer que é uma mulher como as outras, moderna e que trabalha, batalha na vida, é divorciada e com filhos”, disse à BBC News Brasil a socióloga Janine Mossuz-Lavau, diretora de pesquisas no Centro de Pesquisas Políticas da universidade Sciences Po de Paris.
Outro fator, importante, é que Marine Le Pen focou seu discurso econômico nas classes desfavorecidas, com propostas para a melhoria do poder aquisitivo da população.
“As mulheres, de maneira mais frequente, estão em situação de precariedade. Elas têm salários mais baixos e empregos menos qualificados. Isso também leva a votar na direita radical”, afirma Mossuz-Lavau.
São geralmente as mulheres que fazem as compras da casa e administram o orçamento familiar. Entre as medidas propostas regularmente pelo RN em eleições estão a redução das tributações sobre energia e combustíveis e também em produtos de primeira necessidade.
As mulheres, afirmam especialistas, também têm mais preocupações em relação à segurança pública, outro tema forte do partido Le Pen, que mistura em seus discursos problemas de falta de segurança e imigração.
O discurso mais moderado de Le Pen, que faz parte da estratégia de “desdiabolização” do RN, acabou ampliando o eleitorado que vota na direita radical, antes mais concentrado nas camadas mais populares de operários, desempregados e pessoas com baixa qualificação.
Jordan Bardella, de apenas 28 anos, assumiu a presidência do partido nacionalista em 2021. Orientado por Marine, ele também focou nas mulheres, sobretudo nas redes sociais. Ele lançou um apelo ao eleitorado feminino para votar no partido nestas eleições legislativas.
“Há o efeito Marine Le Pen, mas também há o efeito Bardella. Todo arrumadinho, engomadinho, ele parece o genro ideal. Ele agrada não só as filhas, mas também as mães”, afirma o socióloga.
Diferença entre discurso e prática
A direita radical de Le Pen faz declarações sobre os direitos das mulheres, que o partido promete proteger, mas organizações feministas dizem que o discurso é um “feminismo de fachada”.
Em um artigo no jornal Le Monde, a filósofa Camille Froidevaux-Metterie, afirma que “para as mulheres, votar RN é como apontar uma arma para si mesma.”
Deputados do partido se abstiveram de votar uma lei na França em 2018 contra violências sexistas e sexuais.
Le Pen se opôs à ampliação do prazo legal para a realização de abortos, totalmente autorizado na França, e também foi contra a reprodução assistida para todas as mulheres, o que inclui casais de lésbicas.
Deputados europeus do partido também votaram em massa contra uma condenação da Polônia após restrições do direito ao aborto.
( da redação com informações e textos da BBC. Edição: Política Real)